CL - De onde surgiu esta vontade de ter uma produtora?
AA- Para responder a essa questão tenho de primeiro falar da minha pessoa. Desde que me lembro que sempre fui um contador de estórias e foi nessa perspectiva que o cinema foi entrando na minha vida. No fundo vi o cinema como um veiculo para narrar o meu mundo ficcional e dar forma às minhas personagens.
O problema é que escrever e realizar exige coragem e, acima de tudo, maturidade. Talvez por isso tenha iniciado a minha vida profissional como assistente de produção e técnico de pós produção. Alguns destes anos passei-os na Tobis Portuguesa e posso afirmar que foi essa a minha maior escola ao ter a oportunidade de trabalhar com profissionais experientes e de grande mérito.
Contudo o "bichinho" de contar estórias foi despertando lentamente. Tentei apresentar guiões a outras produtoras mas era sempre um mar de complicações pelo que decidi criar a minha própria label. Comecei a produzir e realizar alguns dos meus projectos, a coisa correu bem e o nível de produção foi aumentando até sentir a necessidade de deixar o meu emprego e dedicar-me a 100% àquilo que verdadeiramente me realiza. E foi assim que nasceu a Low Cost Filmes, uma label criada por mim para produzir filmes com baixo ou nenhum orçamento de pessoas que procuram contar as suas estórias.
CL - Low Cost Films está apenas vocacionada para fazer curtas e videoclips, não pretende fazer longas metragens?
AA - Claro que pretendemos fazer longas. Temos aliás duas escritas e outra documental a ser produzida e que deverá ser lançada ainda em 2009. Até agora a única regra a que nos temos proposto, no sentido de facilitar o processo de produção, é o de nos cingirmos ao método de guerrilha que passo a explicar:
Guerrilha é um conceito que desconstrói aquilo que é a prática comum no desenvolvimento de um projecto cinematográfico e tem como objectivo ultimo dinamizar e dar experiência a novos e aspirantes cinematógrafos. A saber, é prática comum, na maioria dos filmes, fazer-se uma primeira leitura do argumento durante a qual se faz um levantamento das necessidades de produção do mesmo, sejam elas relacionadas com materiais a utilizar, locais de rodagem, equipe técnica e artística, etc.
Ora o problema é que quem escreve muitas vezes o faz sem pensar ainda no quão difícil poderá ser reunir todos os meios necessários à concretização do guião. E é precisamente nesta fase da escrita de argumento que se reflecte pela primeira vez o conceito de "guerrilha". O que se pretende é que quem escreve o faça depois de fazer um levantamento prévio de todos os meios ao seu dispor - Isto implica pensar na sua própria casa, na dos seus avós, amigos, tios, primos, na casota do cão, no tractor do cunhado, etc. Além disso terá ainda de pensar nos meios técnicos e humanos - Na câmara do vizinho, no sobrinho que percebe de som, na prima que já fez algumas coisas em teatro, etc.
- No fundo o conceito de guerrilha é simples, basta apenas olhar à volta, ver tudo aquilo a que se tem acesso e pensar no(s) filme(s) que se poderá fazer com tudo isso.
CL - Como consegue viver apenas com um produtora de baixo orçamento ?
AA - Obviamente que nem eu nem o Pedro Soares, o outro elemento activo da Low Cost, vivemos deste projecto. Talvez um dia seja possivel mas por enquanto fazêmo-lo por convicção.
CL - Actualmente a Low Cost Films tem algum projecto a ser realizado ? E que podemos ver brevemente ?
AA - Actualmente, como já referi numa resposta anterior, estamos a finalizar uma longa documental que lançaremos ainda em 2009, da autoria do Pedro Soares. Acabámos de produzir o teaser do projecto "Life Frames" de João Bordeira e esperamos ter condições de o filmar o mais cedo possível. Além disso temos ainda um outro projecto da minha autoria (António Aleixo) que se encontra a ser escrito.
CL - Quantas pessoas trabalham consigo na Low Cost Films?
AA - Actualmente trabalham activamente na Low Cost duas pessoas. Eu (António Aleixo) e o Pedro Soares. Além de nós existe ainda o João Bordeira, um colaborador frequente.
CL - Como são escolhidos os actores para entrar nas vossas curtas ?
AA - Geralmente por casting anunciado ou por convite caso já tenhamos escrito o papel a pensar em alguém em particular.
CL - A onde podemos ver o vosso trabalho realizado ?
AA - Os trabalhos podem ser vistos em sala sempre que assim o acontece. Outra forma será estar atento aos endereços onde geralmente disponibilizamos algum do nosso material - http://low-cost-filmes.blogspot.com/ e www.myspace.com/lowcostfilmes
CL - Qual é a sua opinião sobre o Cinema Português ? E o que devia ser feito para chamar mais atenção do público português?
AA - Na minha opinião é imperioso acabar com a subsidio dependência e com a desresponsabilização do produtor face aos resultados de bilheteira atingidos por filmes financiados pelo estado. É impossível continuarmos a trabalhar para minorias informadas e aspirarmos a uma verdadeira industria cinematográfica - Nesse sentido é de louvar o novo fundo para o Cinema Português e pessoas como o Leonel Vieira, Alexandre Valente ou o Tino Navarro.
Temos urgentemente de pensar no que atrai o grande público e usar essas "ferramentas" nos nossos filmes. Isto implica acima de tudo um enorme trabalho de pesquisa dolorosa que nos levará a ver coisas como novelas, telejornais da TVI, programas da Maya, etc. É um trabalho de sapa mas do qual se poderá tirar um bom proveito de for bem feito (Atenção que não quero com isto dizer que devemos fazer filmes como se fazem novelas ou Morangos com Açúcar, apenas que devemos analisar estes fenómenos no sentido de saber o que deles podemos retirar para tornar os nossos filmes mais apetecíveis ao grande público).
CL - Quais são os apoios que a Low Cost Films tem ?
AA - Neste momento não temos nenhuns apoios.
CL - Até onde a Low Cost Films pretende ir?
AA - O sonho era fazer com que a Low Cost Filmes se tornasse auto-sustentada enquanto empresa, que pudesse pagar salários aos seus valorosos colaboradores e que permitisse que todas estas pessoas dedicadas pudessem viver daquilo que gostam, dos filmes.
CL - Qual o motivo escolhido, para criarem a Low Cost Films em Setúbal?
AA - Não faria sentido ser em qualquer outro local visto que os colaboradores são todos de Setúbal. Contudo a Low Cost Filmes não está presa à cidade e pode ir para onde nos apetecer. Esta é a vantagem de não sermos uma empresa formal mas sim uma marca, uma label.
CL - Para si qual é a melhor produtora portuguesa ? E porquê?
AA - Na minha opinião destaco a MGN pelo volume de trabalho conseguido e pela coerencia e profissionalismo evidenciado.
Blogue Curtas e Longas agradece a disponibilidade de António Aleixo, para responder as nossas perguntas. Não percam na próxima Quinta Feira mais uma entrevista.
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