quinta-feira, 30 de abril de 2009

Entrevista com o Director de Fotografia Tony Costa



Hoje temos mais uma vez o orgulho de apresentar uma entrevista com um director de fotografia português bastante conhecido a nível nacional quer internacional, para os amantes do cinema. Deixo aqui a sua biografia retirada do site http://www.aipcinema.com/detalhe.php?IdCV=4.
BIOGRAFIA
Tony Costa tem pautado a sua carreira essencialmente em torno da direcção de fotografia.
Iniciou os seus estudos no Canadá nos finais dos anos 80 e tornou-se desde então profissional de câmara, tendo subido na carreira até director de fotografia.
Já fotografou várias ficções e tem trabalhado como operador em muitos outros filmes e na publicidade.

Para além da fotografia Tony Costa tem também desenvolvido outras actividades paralelas. Em particular o exercício de docência. É hoje professor da Universidade Lusófona sendo responsável no curso de cinema pela área de imagem cinematográfica. No campo da fotografia cinematográfica, Tony Costa tem organizado regularmente diversos workshops, umas vezes como promotor e outras como formador. Para além de ser professor na Universidade Lusófona é também formador em outros estabelecimentos de ensino nomeadamente na Restart e na Escola Superior de Teatro e Cinema.

Para além da direcção de fotografia e da actividade de professor, Tony Costa é também autor do livro « Métodos e Procedimentos do Assistente de Imagem» que publicou em 2005 e foi editor dos sites aipcinema, cineguiaportugal e da federação europeia IMAGO. Para além de ter sido editor da revista «Imagem Cinematográfica» e colaborar como redactor para a revista inglesa «British Cinematographer».

A sua bio não termina ainda, ficando ainda para concluir que Tony Costa tem de momento uma tímida incursão pela realização. realizou dois documentários «Declaration on Working Conditions» documentário que aborda as relações socio-laborais na indústria cinematográfica no Mundo e o documentário sobre o director de fotografia reformado Abel Escoto com o título « Abel Escoto e as Fitas do seu Tempo»

Entrevista

Como definiria a importância do director de fotografia, para aqueles que
são leigos na matéria?

O Director de fotografia é o fotógrafo do filme. É ele que executa os planos
de câmara. É o perador de câmara. Ao fotografar o Director de Fotografia faz
a iluminação dos espaços e cria a atmosfera que se adequa à narrativa em
causa. O Director de Fotografia prepara (pré-produção) com o realizador e os
outros departamentos o estilo que o guião determina. É aqui que se escolhe
um estilo para a imagem do filme. Pode ter um estilo muito claro ou muito
escuro. Depende da intensidade e da atmosfera (mood) da narrativa do filme.
Ao director de Fotografia também se pede que determine todos os equipamentos
necessários a utilizar num filme, como câmaras, iluminação, gruas e outros equipamentos
que sejam necessários.

No filme O TEU SAPATO, ainda não estreado nas salas de cinema, está como
director de fotografia, qual a cena que custou mais a fazer e qual a que lhe
parece mais bem conseguida num filme?


O Teu Sapato é apenas uma curta metragem feita sem qualquer orçamento. Foi
um exercício feito com alguns dos meus alunos aproveitando a ideia abstracta
do realizador João Seiça. Nenhum dos planos teve qualquer grau de
dificuldade a não ser as deficientes condições de produção que tivemos ao
longo de todo o projecto. Dificuldades que não surpreenderam porque
estavamos a contar com elas e esse era o desafio mais aliciante. Tanto que
as imagens foram sendo construídas de acordo com as nossas possibilidades. O
guião não era rígido o que nos permitiu ir trabalhando de acordo com as
nossas condições. Este é aquele tipo de projecto que adoro participar.
Partimos de uma ideia, juntamos uma equipa de jovens totalmente
inexperientes e junta-se uma equipa de filmagens durante uma semana e
filma-se em 35mm. A produção só necessita de assegurar os custos de
laboratório e as despesas nos dias de rodagem como alimentação e
deslocações. Eu tenho capacidade de obter equipamentos sem custos graças à
boa vontade de empresas de prestação de serviços. Em muitos casos eu como
formador passo certificados de participação a alunos que tenham frequentado
cursos de cinema.


Tem uma carreira de vários anos trabalhou com vários directores de
fotografia bastante conceituados a nível mundial, aprendeu muito com eles?
Qual dos vários directores de fotografia gostou mais de trabalhar?


Claro, aprendi praticamente tudo. Isto aliado à leitura de muitos livros e
de ver muitos filmes de todos os géneros. A minha actividade como formador
também me obrigou a pesquisar muito material que não faria se não tivesse
que ensinar. Contudo foram as rodagens que me deram o know-how que hoje
possuo. Foi a trabalhar com muitos directores de fotografia enquanto
assistente de imagem que me deu a oportunidade de observar e de falar sobre
fotografia com todos eles. De todos com quem trabalhei destaco Vilmos
Zsigmond e Eduardo Serra. Ambos com estilos totalmente opostos na abordagem
fotográfica mas muito rica no ponto de vista conceptual. Vilmos com um
estilo mais clássico e Eduardo com as suas fortes fontes de luz difusas. Um
e outro são a base da minha fotografia hoje, mas procuro sempre recorrer aos
fotógrafos de fotografia fixa para me inspirar ou por último recorrer às artes
plásticas.

É professor na Universidade Lusófona, Restart, Escola Superior Teatro e
Cinema, ou seja dá aulas nas escolas mais conceituadas de Portugal na área
do Cinema, qual a opinião sobre o ensino nesta área?


O ensino na área de imagem é muito rico em Portugal. Não nos podemos
queixar. Há uma componente teórica e prática muito rica em qualquer umas das
escolas mencionadas. Há ainda para breve um reforço no ensino nesta área;
trata-se de um novo curso de pós-graduação em fotografia cinematográfica que
irá abrir em Setembro na Universidade Lusófona de livre acesso a todos, desde que
tenham alguma experiência no mínimo em vídeo. Este curso virá ainda reforçar
mais conhecimentos teóricos e práticos nesta área.

Qual a sua opinião sincera sobre o cinema português? E porque o cinema
português não ser um sucesso em Portugal?


Há em todo lado bom e mau cinema. Portugal não é excepção. Há bons filmes e
maus filmes. Mas Portugal é actualmente o país que maior diversidade
apresenta. É um cinema livre e independente. Algo que não se encontra muito
facilmente noutros países, porque estão sujeitos às directrizes comerciais.
Esta condicionante comercial retira aos realizadores o seu espaço de
liberdade para criar. É aqui que se resume o equívoco do cinema português.
Há cinema para o grande público e há cinema para um público restrito e o
equívoco reside exactamente no facto de não se conseguir separar estes dois
estilos que deviam de ter distribuições diferentes. Repare-se bem nos filmes feitos nos últimos 5, 6 anos e nota-se uma diferença substancial na técnica e nas narrativas. Está muito melhor que há 10 anos. É preciso estarmos um pouco mais atentos. Na realidade generalizou-se que o cinema português é todo mau e que é para evitar. Há cinema português de todos os géneros, cada espectador deve escolher o seu e não deve confundir, por isso a distribuição deve ter em conta o género.

Aos jovens que estudam na área do cinema, qual o conselho que lhe dá
porque viver de cinema em Portugal não é fácil.


Que não desistam. Que se mantenham firmes no seu objectivo. Devem de criar os seus próprios filmes e não esperarem pela oportunidade. Devem de ser eles próprios a criar a oportunidade. Hoje em dia não são necessários meios megalómanos para se fazer filmes. Basta uma câmara de video e um computador. Ponham as suas ideias em prática e verão que terão sucesso.

O blogue Curtas e Longas agradece a disponibilidade e atenção prestada para esta entrevista ao Sr.Professor e Director de Fotografia Tony Costa, um muito obrigado.

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