quinta-feira, 28 de maio de 2009

Entrevista ao realizador Nuno Barradas






Conte-nos como foi a sua chegada até ser realizador?
Não profissionalmente começei com cerca de 14, 15 anos a fazer pequenos filmes com amigos. Todos fazíamos tudo, portanto uma das minhas funções era ser realizador.

Profissionalmente começei, também por essa altura, por ter pequenos trabalhos na r.t.p. durante os meses verão.

Era uma coisa pela qual eu esperava ansiosamente durante todo o ano escolar. Trabalhei como paquete, assistente de produção, operador de teleponto etc.

Isto porque o meu pai era produtor e realizador na r.t.p., o que me influenciou, desde muito cedo, a querer trabalhar no meio audiovisual.

Alguns anos mais tarde, e já mais a sério, começei a trabalhar como assistente de realização na Shots, uma produtora de publicidade,

ao mesmo tempo que frequentava (algumas) aulas no conservatório. O facto de trabalhar e estudar ao mesmo tempo fez-me anular a matricula no 1º ano e acabei por ter de abdicar de

alguns trabalhos para conseguir acabar o curso. Mas nunca deixei de trabalhar e começei, nessa altura, a fazer alguns vídeos institucionais ou curtas-metragens, como realizador.

Na escola de cinema é que nunca me deixaram realizar filme nenhum.

Como eu já trabalhava como realizador fora da escola, os professores achavam isso mal e escolhiam-me, quase sempre, para outra função nos filmes e não para realizador.

Depois de acabar o curso continuei, naturalmente, a trabalhar como realizador ou, em alguns casos, ainda como assistente de realização.

É realizador free lancer, não é arriscado viver assim, sem saber quando trabalha, quando vai receber? Preferia um trabalho fixo com ordenado fixo ou gosta mais de viver como free lancer?
Em Portugal é muito arriscado trabalhar no meio audiovisual, independentemente de ser free lancer ou de ter um trabalho fixo.

Obviamente como free lancer o risco de não ter trabalho é maior mas, por outro lado, também temos uma maior liberdade e diversidade de trabalho. A monotonia quase não existe.

E o risco de uma pessoa se acomodar é maior quando se tem um emprego fixo.

Porque trabalhar em cinema ou televisão não é o mesmo que ser funcionário público, em que o objectivo é trabalhar menos e receber mais, ao longo da carreira.

Mas no fundo, e como diria Jaime Pacheco, esta questão "é um pau de dois legumes" (risos)

Estudou nas escolas mais respeitadas na área do cinema, qual é a sua opinião sobre o ensino dessas respectivas escolas é excelente ou ainda tem alguns aspectos a melhorar?
Na época em que eu estudava no conservatório o material técnico era muito antigo e desactualizado. Apenas no meu último ano chegaram computadores para edição não-linear.

Na parte teórica tínhamos bons professores, normalmente os que gostavam de ensinar. Os outros, tal como o equipamento, estavam também muito obsoletos. Esse era um dos problemas.

Os bons professores continuavam a trabalhar no cinema para além da escola, por isso tinham menos tempo e faltavam muito as aulas.

Os que não trabalhavam, que não tinham outro contacto com o cinema para além da escola, eram os mais desajustados da realidade do meio, e por isso, piores professores.

Julgo que com a passagem da escola para a Amadora as coisas melhoraram, pelo menos em relação ao material e instalações, porque os professores continuam a ser praticamente os mesmos.

Em relação ao AR.CO julgo que sempre foi, e continua a ser, uma óptima escola privada, a todos os níveis.

Qual foi o programa de televisão que mais gostou de realizar? Porquê?

Gostei de fazer vários, por diferentes razões.

"O Hugo" (para a r.t.p) por ter sido p 1º programa que fiz em directo. Por ter sido dos primeiros programas interactivos, para um público juvenil.

"Big Brother" (para a t.v.i.) por ter revolucionado a televisão, pela grandiosidade técnica e humana.

"Operação Triunfo" (para a r.t.p) por ser um programa de música e por ter tido a oportunidade de coordenar uma equipa de jovens realizadores.

"Um Contra Todos" (para a r.t.p) por ter inaugurado os novos estúdios da r.t.p., por ser um concurso de cultura geral, que é um formato que gosto particularmente.

"1a Companhia" (para a t.v.i) por ter gostado do resultado final e por me ter divertido muito com o actor José Pedro Vasconcelos

"Portugal Futebol" (para r.t.p.) por ter sido também autor desse programa, por ser sobre futebol, por ter toda a liberdade criativa.

"Dança Comigo" (para r.t.p) porque é divertido filmar pessoas a aprender a dançar;

E também gostei muito de todos os concertos ao vivo que realizei na praça Sony durante a Expo 98,

por ter sido um acontecimento mundial único e ter trabalhado com grandes nomes da música internacional.

É realizador, mas também já escreveu curtas-metragens em algumas obtiveram menções honrosas e outras ganharam grandes prémios em festivais tenciona, voltar a escrever curtas ou está para vir uma longa-metragem?

Só escreveria uma longa-metragem se tivesse a certeza que iria ter dinheiro para a fazer. Como isso é quase impossível, acho difícil.

Curtas, pode ser que sim. Sobre a reciclagem (ver resposta seguinte).

Qual a sua opinião sobre o cinema português?

Devo dizer que não estou por dentro do que se passa no meio do cinema, mas também acho que, tirando meia dúzia de pessoas, ninguém está.

Apenas tenho pena que nós, contribuintes, tenhamos que continuar a dar dinheiro para subsidiar filmes que quase ninguém vê.

Neste caso a culpa será mais dos distribuidores e exibidores que não querem arriscar, talvez por terem poucos incentivos estatais.

Por outro lado, já vi filmes portugueses que tem alguns espectadores, graças ao investimento no marketing, mas que até arrepiam de tão maus que são.

Isto faz com que a maioria dos espectadores tenha uma imagem distorcida dos filmes portugueses.

Era óptimo um meio termo em que os bons filmes fossem bem divulgados e tivessem muitos espectadores, em Portugal ou no estrangeiro. E isso não acontece.

Estou também, sempre a ouvir dizer, que o cinema português precisava era de uma limpeza a sério, como no futebol.

Por isso, e para efeitos de contenção de despesas, acho que se podia aproveitar e limpar logo o país todo. Mas para onde se enviava o lixo?

Será possível algum dia os filmes portugueses conseguirem ultrapassar os filmes estrangeiros, em termos de bilheteira?
Pontualmente sim, talvez mesmo sem a Soraia Chaves a despir-se. Mas de uma maneira geral não me parece que algum dia isso venha a acontecer.

A partir do momento que não temos industria, será o mesmo que perguntar se algum dia uma marca de carros portuguesa irá vender mais que as marcas japonesas, francesas ou alemãs.

Onde poderemos ir ver o trabalho feito ou realizado por si?
A festivais, no próximo ano

O blogue Curtas e Longas agradece o tempo disponibilizado para a entrevista.

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