
Quinta Feira, Dia de Entrevistas, hoje com o actor Alexandre Ferreira.
CL - Qual a sua opinião sobre o Cinema Português?
Está a crescer a olhos vistos. Está a adaptar-se. Há uma nova geração cheia de vontade de fazer um novo cinema português, que não esteja de costas voltadas para o público, que quer tê-lo como cúmplice, que quer fazer bom cinema em português, um cinema do qual todos nos possamos orgulhar. Um cinema que seja acessível sem ser facilitista. Acho que estamos no bom caminho, às vezes aos solavancos, mas no bom caminho.
CL - O que devia ser feito para que o Cinema Português, atingir as mesmas proporções que o cinema francês , visto que os filmes vais vistos na França são franceses, será possível algum dia os filmes portugueses serem mais vistos que os filmes estrangeiros?
Não tenho dúvida sobre isso, basta que estejam atentos e sejam respeitadores do público português. Desde o início deste ano que tenho muito gosto em ir ao cinema ver cinema português e ver as salas, se não cheias, pelo menos bem compostas. Sinto que o público português quer ver os seus actores, os seus artistas, as suas histórias no ecrã e está mais que disposto a apoiá-lo. E essa confiança e esse respeito deve ser acarinhado pelos cineastas.
CL - Já experimentaste as três vertentes da representação. Qual preferes?
Gosto das três igualmente porque cada uma tem a sua especificidade. O teatro é a festa, o evento, a comunhão que se passa ali, naquele momento irrepetível, na televisão adoro o frenesim constanto, a pressão e o stress. Costumo dizer muitas vezes que as pessoas não fazem ideia da quantidade de milagres que toda a gente envolvida num trabalho televisivo faz diariamente. Quanto ao cinema, que é onde tenho menos experiência, agrada-me a fixação da imagem, o trabalho em pormenor, o despojamento exigido do actor.
CL - O que devia ser feito para promover o cinema português ?
Acho que deviam existir mais apoios á sua divulgação e à sua execução. Devia haver também mais rigor em todo o processo. Acho que falta muito script doctoring, ou seja, alguém que perceba muito de estrutura de escrita dramática que analise a fundo os argumentos. Acho sempre que a grande falha do cinema português, a maior parte das vezes são argumentos « remendados ». Em jeito de provocação, muitas vezes acho que vejo boas curtas que foram « esticadas » para longas… E acho que a maior parte das vezes isso resolver-se-ia com algum a restruturação ao nível da estrutura dramática. Sou totalmente a favor do cinema de autor, mas não podemos ter um cinema só de cinema de autor, tal como não podemos ter um cinema somente comercial. Acho sim que tem que se começar a criar público, a acarinhá-lo. Sem alguém que o veja, o cinema não existe.
CL - Concordas com a criação de uma lei em televisão, cinema e rádio, onde deviam ser obrigados a passar 70% da produção nacional?
Sim, creio que isso ajudaria. Lembro-me que há uns anos atrás, quando as pessoas ouviam música portuguesa torciam o nariz e hoje em dia chega a ser difícil encontrar uma rádio que não esteja a passar música nacional… As pessoas tem que perceber que o que é nacional também pode ser bom. E pode, não tenho dúvidas quanto a isso. Temos tão bons profissionais como noutro lado qualquer, temos é que saber fazer, sermos mais prácticos.
CL -Do que achas da nova geração de actores? A maioria anda atrás da fama ou quer fazer mesmo representação?
Há de tudo. Mas dizem que o teatro, a representação, o meio, é como o mar, deita fora o que não presta. E cada vez mais acredito que isto não é nenhuma corrida de cem metros, mas sim uma maratona. E cada um tem o seu percurso… Há pessoas que estão neste comboio só de passagem, há outros que estão cá para que o comboio não pare.
CL -Visto que frequentaste uma das escolas mais cotadas em Portugal, a ESTC, em Lisboa. Como consideras o ensino da representação em Portugal?
Acho que a ESTC faz cada vez mais um bom trabalho. Acho que devia ser mais atenta ao mercado. Não quero dizer com isto que devia ser uma escola menos artística, mas acho também que não devia estar de costas voltadas à realidade, ao mercado para onde lança todos os anos quase 30 actores… Deviam dar-lhes ferramentas para se aguentarem ao duro embate com a realidade. Acho que a Escola superior de Teatro e Cinema devia funcionar tal como o nome indica, como uma escola onde o departamento de teatro e o departamento de cinema se entrelaçassem de facto. E nesse sentido sei que as coisas estão hoje melhores que nunca, mas… Há ainda um longo caminho para percorrer, a meu ver. Os actores que se formam na ESTC não podem ser só actores de teatro, tem que sair da ESTC apetrechados com ferramentas que lhes permitam representar em todos os meios.
CL - A representação sempre te correu nas veias ? Ou quando eras mais novo querias ter outra profissão?
Queria ser astronauta. Depois realizador de cinema. Depois actor. Desde os 9. Ainda hei-de cursar cinema, se tudo correr bem.
CL -- Quais são os teus actores preferidos?
Robert DeNiro, Al Pacino e para mim o melhor actor do século XX, Marlon Brando.
CL -Vamos poder ver o Alexandre em algum projecto próximo para televisão?
Estou neste momento a gravar uma participação especial na série Conta-me Como Foi
CL - Devia haver mais intercâmbio entre os países lusófonos na área audiovisual ?
Sem dúvida alguma. Temos a mais-valia da língua. E temos todos tantas histórias para partilharmos uns com os outros…
CL - E o que falta para os portugueses conseguirem fazer sucesso lá fora?
A meu ver, nada. Já há muitos portugueses a fazer sucesso lá fora. O que eu quero cada vez mais é ver os portugueses a fazerem sucesso cá dentro!
Alexandre, o blogue Curtas e Longas, quer te dar os parabéns pela tua carreira, no qual este ano completas 15 anos, desejamos-te felicidades para a tua carreira assim como para a tua vida pessoal.
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